Lágrimas de Crocodilo

Lágrimas de Crocodilo

“Ainda assim, agora mesmo, diz o SENHOR: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto. Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao SENHOR, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal”. (Jl 2.12-13)

Possivelmente, você já ouviu, usou a expressão ou até mesmo derramou as famosas “lágrimas de crocodilo”. Esse termo, comumente, significa o choro de alguém fingido, falso ou hipócrita. A origem dessa expressão é antiga e faz referência à ordem da própria natureza. Segundo o professor Ari Riboldi, em seu livro “O Bode Expiatório”, quando o crocodilo está digerindo um animal, a passagem deste pode pressionar o céu da boca do réptil, comprimindo as glândulas lacrimais. Assim, enquanto devora sua vítima, lágrimas naturais caem dos seus olhos. Obviamente, isso não significa que o animal sinta pena de sua presa. [1]

Não é raro vermos pessoas com um procedimento parecido ao desse réptil. Lembro-me de um personagem bíblico: Faraó. Por duas vezes esse homem disse a Moisés: Pequei…(Êx 9.27, 10.16-17), mas é evidente que o seu arrependimento não foi verdadeiro, pois logo em seguida desobedece a Deus outras vezes. Essa aparência de sinceridade e arrependimento superficial de quem acha que engana a Deus pode ser comparada a “lágrimas de crocodilo”, ou seja, alguém que demonstra uma postura externa de contrição, mas continua com a rebelião interior e obstinada contra o Senhor Deus.

Você já percebeu que quero falar de arrependimento verdadeiro. No Novo Testamento a palavra grega, normalmente utilizada para arrependimento, é μετανοια (metánoia) e demonstra a disposição interior para mudar a mentalidade, o coração e até mesmo o próprio curso da vida. A Bíblia faz uso dessa palavra muitas vezes e o arrependimento é um assunto central em toda a Escritura, mas tem sido muito negligenciado nos dias atuais.

Expondo o ensino bíblico sobre o assunto, o Breve Catecismo de Westminster pergunta: “Que é arrependimento para a vida? Resposta: Arrependimento para a vida é uma graça salvadora pela qual o pecador, tendo um verdadeiro sentimento do seu pecado e percepção da misericórdia de Deus em Cristo, se enche de tristeza e de horror pelos seus pecados, abandona-os e volta para Deus, inteiramente resolvido a prestar-lhe nova obediência. Ref. 2Co 7.10; At 2.37; Lc 1.77-79; Jr 31.18-19; Rm 6.18”.

O verdadeiro arrependimento operado pelo Espirito Santo de Deus, envolve diretamente três áreas principais da vida do ser humano:

  • A Razão: Somos tomados por um novo senso de pecaminosidade oriundo do conhecimento advindo da Palavra de Deus, que nos impulsiona a uma mudança da nossa cosmovisão atual, para outra biblicamente orientada. “Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti” (Sl 119.11). Por causa da Palavra, temos uma mente renovada e reorientada para agradar a Deus e fazer sua vontade.
  • A Emoção: O verdadeiro arrependimento surge de uma tristeza piedosa, ou seja, que está em harmonia com a vontade de Deus, não provém, meramente, de um caráter ético, mas religioso, e é dado como dom de Deus. “Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte” (1Co 7.10). Nossos olhos são abertos para que lamentemos o pecado e os confessemos a Deus.
  • A Vontade: O verdadeiro arrependimento consiste numa mudança interna da mente, levando as pessoas a olharem para Deus e envergonharem-se de seu passado; Conduz ao desgosto, humilhação e confissão de pecados; mas, é o começo de uma nova vida, de um caráter totalmente renovado que demonstra atitudes novas e desejo intenso de servir a Deus. “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2Co 5.17). Nossos pés são direcionados a abandonar o pecado e andar em retidão.

Deus tem prazer em perdoar. Ele é misericordioso e compassivo e por causa da obra vicária de Jesus podemos ter a certeza que “…se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo 1.9). Experimente o perdão de Deus e desfrute de uma vida em comunhão e santificação aos pés do Senhor.

Pr. Fábio B. Coutinho

[1] http://noticias.terra.com.br/educacao/vocesabia/interna/0,,OI2908775-EI8402,00.html – acesso em 26/02/2018.