O Caminho da Restauração

O Caminho da Restauração

Qualquer um de nós, servos do Senhor, está sujeito a cair. De repente, tiramos os olhos do nosso Redentor, alimentamos uma paixão pelas fantasias ilusórias deste mundo e viramos as costas para Deus. Desprezamos o sábio conselho do nosso Pai amoroso, abraçamos o pecado com toda nossa força e caímos. E, assim, em gradações diversas, ficamos intoxicados pelo pecado que nos envenenamos.

Não creio que ignorar essa terrível situação faça bem para o povo de Deus. De fato, seria ótimo vivermos em integridade plena de vida. Não apenas seria ótimo, mas é essa realmente a vontade do Senhor para nós, seu povo, a nossa santificação. Que deixemos todo pecado, buscando uma vida de pureza para a glória de Deus.

Do outro lado, entretanto, está a realidade dos crentes, justos e ainda pecadores, que por vezes tropeçam e caem em pecado. Como aconteceu com Abraão, com Davi, com Salomão, com Pedro e com tantos outros homens de Deus, apenas para citar alguns da história bíblica; como acontece conosco.

O que fazer neste momento? Como se livrar do emaranhado do pecado que nos enlaça? Como voltar a trilhar o caminho do Senhor quando dele nos desviamos para tão longe? Como experimentar uma verdadeira restauração?

É o caso do adolescente que, viciado em pornografia, não consegue mais pensar em uma vida livre disso. Do casal que entrou por um caminho de mútua ofensa que, profundamente feridos, não vislumbram uma saída, exceto no divórcio. Do homem que trocou a alegria da vida familiar pela escravidão do trabalho. Da mulher que não encontra felicidade senão ilusão da vida virtual das redes sociais. Daquela pessoa que entregou sua alma a escuridão do desânimo por pensar ser o melhor caminho. Daquela que pensa ser a verdadeira felicidade um momento insignificante de embriaguez na noite, para anestesiar a terrível lucidez de uma vida sem sentido. Ou de qualquer outro dentre os múltiplos caminhos que o pecado pode nos levar e, sem dúvida, nos escravizar.

O que fazer quando as coisas se encontram assim? Eu creio que um texto das Escrituras que direciona com bastante clareza nossa vida para o caminho da restauração é 1 João 1.9, onde lemos: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.”.

Vejamos, assim, algumas questões muito importantes neste texto:

  • Precisamos entender que nosso pecado é, antes de tudo, uma afronta contra Deus

Equivocadamente, tendemos a olhar para o pecado prioritariamente como algo que nos contamina. É verdade que, ao pecarmos, somos intoxicados por ele. Todavia, algo mais significativo: o nosso pecado é, antes de tudo, uma afronta a Deus. Promovemos uma ostensiva afronta a Deus quando buscamos prazer, alegria, saída para nossos dilemas ou quaisquer outras coisas, em algo que não confere com o modelo que o Senhor estabeleceu para nós.

O sexo solo, ou no contexto de namoro, ou com outra pessoa que não o cônjuge, afronta o padrão estabelecido por Deus em sua Palavra, que é do sexo no contexto exclusivo de um matrimônio entre duas pessoas de sexo oposto. A agressão verbal do marido contra a esposa se opõe ao chamado de Deus ao homem para amar sua esposa e cuidar dela como protetor do seu lar. Uma vida de fantasias — seja da ilusão fabricada pelas máscaras cosméticas e filtros fotográficos nas postagens das redes socais, seja dos psicotrópicos e do consumo excessivo de álcool que leva ao anestesiamento da alma — é uma afronta ao chamado de Deus para uma vida de lucidez no mundo real.

Este é o ponto fundamental e a perspectiva bíblica correta: o pecado antes de tudo é uma afronta deliberada ao nosso Criador, que pela sua autoridade absoluta e sabedoria sublime determinou como devemos viver. Assim, quando pecamos estamos, antes de tudo, tentando insurgir contra o Senhor, nosso Deus.

  • Precisamos compreender que nosso pecado nos contamina profundamente

Algo maravilhoso aconteceu conosco quando o Senhor Deus nos salvou pela sua graça: ele nos fez livres em Cristo. Livres da condenação eterna, da culpa pelos nossos pecados e da escravidão do pecado. Que maravilhosa graça!

Entretanto, quando voluntariamente viramos as costas para nosso Redentor, desprezando sua graça libertadora, e abraçamos o pecado, tragicamente nos colocamos numa condição terrível. Pois nos sujamos com a imundícia do pecado que abraçamos, bem como nos fazemos escravos do pecado. Essa é outra trágica consequência do pecado, além de ser uma ofensa contra Deus, o pecado nos torna envenenados e escravizados.

  • Precisamos confessar nosso pecado ao Senhor

Ao pecarmos, assim, duas condições trágicas se configuram. Primeiro, e mais grave situação, estamos na condição de culpados por afrontar a Deus. Segundo, como consequência, nos tornamos sujos da imundície do pecado.

Há um erro que por vezes cometemos na luta contra o pecado, que é focarmos principalmente nas consequências do pecado, na sua contaminação em nós. Esquecendo-nos da questão mais fundamental, que é a afronta contra Deus. As pessoas querem se livrar da pornografia apagando o histórico, usando filtros de bloqueios a certos sites, não levando o celular para lugares isolados. Buscam resolver sua crise conjugal, pedindo desculpas ao cônjuge e enviando-lhe presentes. Querem romper com uma cultura viciante de trabalho, indo mais ao parque. Desejam acabar com um estilo de vida virtual excluindo suas redes sociais.

Claro que essas atitudes são válidas na luta contra o pecado, mas elas não tocam em algo essencial: elas não resolvem nossa ofensa contra Deus! É por isso que o texto de 1 João 1.9 nos chama para confessarmos nosso pecado, assumirmos diante de Deus que o ofendemos, que pecamos contra nosso Criador, que somos culpados pelo que fizemos.

Assim, um genuíno arrependimento é requerido da parte de Deus quanto ao nosso pecado. Pois a Palavra de Deus nos mostra que há restauração para o pecador arrependido através do verdadeiro arrependimento. E isso em dois aspectos:

Primeiro, o Senhor manifesta seu perdão. Aquele que se humilha diante do Senhor achará graça e misericórdia. Conquanto a dívida dos nossos pecados todos tenha sido cancelada na cruz, através da morte expiatória de Cristo em nosso lugar, mediante o arrependimento o Espírito Santo comunica-nos o cancelamento dessa dívida específica. O salmista chega a dizer que enquanto não confessou seu pecado, sua angustia não teve fim.

Segundo, o Senhor remove a sujeira do pecado. Além da ofensa a Deus ser removida, o Senhor graciosamente também limpa o pecador arrependido da contaminação do pecado. Ele nos perdoa por termos pulado no lamaçal do pecado, nos tira do meio da lama e também tira a lama de nós, purificando-nos.

  • Precisamos confiar que o Senhor é fiel e justo para restaurar o pecador arrependido

Há uma dinâmica triste da escravidão do pecado. Ele nos faz pensar que não podemos ser felizes sem ele. Seja a pornografia, seja o vício no álcool ou outras substâncias de fuga, seja o vício de brigar com o cônjuge ou de trabalhar sem limites; o sentimento do pecador escravizado é que a vida dele não fará sentido sem seu pecado rotineiro. E ainda que sentindo as dores do pecado e cansado delas, pensa que nunca poderá ser libertado. Mas isso não é verdade, pois a Palavra de Deus nos garante que podemos ser perdoados e libertados da escravidão do pecado.

Um detalhe importante em 1 João 1.9 está na apresentação do caráter do Senhor: “ele é fiel e justo”. De fato, há uma questão condicional, “se confessarmos”. Mas se isso for feito, por causa da fidelidade de Deus a sua promessa de perdão e por causa da sua justiça satisfeita em Cristo, podemos ter certeza de que Deus cumprirá sua promessa de perdão e de purificação.

Diante disso, então, o caminho da restauração de uma vida escravizada pelo pecado é possível àquele que reconhece verdadeiramente que ofendeu seu criador, confessa seu pecado em arrependimento genuíno e confia no gracioso perdão que Deus nos dá através de Cristo. E o próprio Senhor, junto com o perdão gracioso concedido, traz também ao pecador arrependido a purificação do seu pecado.

É verdade que a liberdade da escravidão do vício é um processo. Uma luta será travada contra o pecado por aquele que quer ser restaurado pela graça de Deus. E o caminho da restauração mediante arrependimento, perdão e purificação será contínuo. Somos chamados a uma vida de arrependimento! Mas, ainda que seja um processo, é um processo garantido. O Deus que garantiu a restauração é fiel e justo para cumpri-la.

Essa luta também requer acompanhamento pastoral, portanto, procure seu pastor. Requer confissão e reconciliação com as pessoas envolvidas. Requer leitura bíblica e oração contínuas para fortalecimento da fé, bem como ajuda de pessoas amadas para fuga do pecado. Tudo isso é importante e não deve ser desprezado por não ter sido abordado aqui.

Confiemos naquele que é fiel e justo para conceder perdão ao pecador arrependido; que é fiel e justo para limpar o pecador arrependido de toda a sujeira que o pecado causa. E que possamos, rompendo pela graça de Deus com a escravidão do pecado, desfrutar da graciosa liberdade em Cristo que temos, para glória de Deus.

Marcos Rogério F. Santos