O que encontramos na Cabana?

O que encontramos na Cabana?

O livro A Cabana, de William P. Young, obteve alguns feitos inéditos. Ele já ultrapassa os 10 milhões de cópias vendidas, já foi traduzido para mais de 30 línguas e inspirou a produção cinematográfica de Hollywood. Até o momento a obra é considerada um dos maiores best-sellers de todos os tempos, o que trouxe enorme popularidade para o seu autor.
A história do livro pode ser classificada como teodicéia narrativa, ou seja, uma tentativa de explicar o conflito entre a presença do mal no universo e o caráter bondoso de Deus. Em termos gerais o enredo diz respeito a um pai dedicado, Mack, que durante um acampamento da família teve uma de suas filhas sequestrada e brutalmente assassinada. O crime aconteceu em uma Cabana próxima ao acampamento. Anos depois, Mack recebe um convite pelo correio para que ele retorne à Cabana onde sua filha havia sido morta. O convite é assinado por “Papa”, que era o nome que sua esposa usava para se referir a Deus.
Ao chegar à Cabana, Mack encontra as Pessoas da Trindade Santa. Deus Pai é chamado “Papa” e aparece na forma de uma senhora negra muito bondosa. Deus Filho é Jesus, um carpinteiro judeu muito simpático e o Espírito Santo é representado por uma senhora asiática chamada Sarayu.A história se desenrola por meio de vários diálogos entre Mack e as Pessoas da Trindade que se revelam determinadas a afirmar a bondade e a condição completamente redimida da humanidade.
Diferente do que possa parecer, a história da Cabana não é apenas uma ficção nem um drama literário. Na verdade, trata-se de uma obra teológica que apresenta uma caricatura distorcida do próprio Deus. A perspectiva doutrinária do seu autor é revelada especialmente através dos diálogos entre Mack e as Pessoas da Trindade. O problema é que essa perspectiva é totalmente estranha aos ensinamentos bíblicos e isso pode ser visto por meio de seis tópicos a serem analisados.

1. Conflito entre o Amor e a Justiça de Deus–De acordo com o autor dessa obra, amor e justiça são antagônicos e que não podem ser reconciliados. Na Cabana, Mack aprende que Deus nunca julga as pessoas por seus pecados porque ele é limitado pelo seu amor.
No entanto, a Bíblia declara que Deus é amor e ao mesmo tempo justiça. Se negarmos a justiça de Deus jamais compreenderemos a razão pela qual Ele enviou o seu Filho para morrer na cruz para redimir pecadores.

2. Doutrina da Salvação Universal–Mack aprende na Cabana que Deus perdoa toda a humanidade, independente do arrependimento e da fé que eles deveriam ter em Jesus. Essa é a crença de que “todo caminho leva a Deus” e que Jesus é o mesmo para todos, quer eles o conheçam como Buda ou Allá. Nessa obra Young defende que não há necessidade de nenhuma fé ou reconciliação com Deus, pois todas as pessoas serão salvas.
Todavia, o próprio Jesus, na Bíblia, afirma que ele é o “caminho, a verdade e a vida” e que ninguém vai ao Pai senão por Ele (cf. Jo 14.6). Outro texto que contraria o ensino de Young é Atos 4.12, que afirma não haver salvação em nenhum outro senão em Jesus, pois nenhum outro nome foi dado entre os homens para a salvação. Assim, a ideia de Young se revela contrária às Escrituras.

3. Deus submisso ao ser humano?– No livro, Papa afirma a Mack que até a Trindade é submissa a ele, aos seus desejos e escolhas. Com isso há uma enorme confusão sobre “quem é submisso a quem”?
Qualquer um sabe que submissão, por definição, diz respeito a autoridade. Deus criou o ser humano e o homem não pode ditar normas a Deus!A perspectiva de que Deus é submisso ao ser humano é condenada nas Escrituras como perversidade. Em Isaías 29.16 o Senhor diz: “Que perversidade a vossa! Como se o oleiro fosse igual ao barro, e a obra dissesse do seu artífice: Ele não me fez; e a coisa feita dissesse do seu oleiro: Ele nada sabe”.

4. A Bíblia limita Deus? – Em uma passagem da Cabana seu autor afirma que a Bíblia é uma artimanha humana de reduzir a voz de Deus ao papel. Ali é defendido que “ninguém quer um Deus preso em uma caixa, muito menos em um livro” (p. 66). Dessa forma, a história defende que se quisermos conhecer a Deus deveríamos buscar além da Bíblia.
Contudo, o próprio Jesus confiou e usou a Bíblia como revelação de Deus sobre si mesmo. Textos como Lucas 24.44-47 e João 5.39 evidenciam como o Salvador valorizou as Escrituras e como seus seguidores são dependentes dela na vida diária. Além do mais, o apóstolo Paulo afirmou que a Bíblia não é meramente um livro humano, mas ela é a própria Palavra inspirada de Deus (cf. 1Tm 3.14-17).

5. Uma caricatura de Deus – Na Cabana, Young procura, de uma maneira criativa, respondersatisfatoriamente ao problema do mal. O problema, porém, é que sua proposta consiste no fato de resolver o problema do mal mudando o caráter de Deus.

Deus já deu sua resposta ao problema do mal. Deus responde ao problema do mal com o Evangelho, com a cruz com a ressurreição e ascensão de Jesus. Deus designou que o mundo seja julgado por meio de um varão que ele ressuscitou e que retornará (Atos 17.31).
Como obra literária ou cinematográfica, a Cabana pode até empolgar. O problema é que seu conteúdo é extremamente teológico e contrário às Escrituras. Isso pode resultar em confusão para alguns e má orientação para outros. Por essa razão, as palavras de Jesus se fazem altamente relevantes: “Examinai as Escrituras . . .”

11 Comments

    Adriano Diniz

    Excelente texto professor Valdeci! Um grande abraço aqui de Recife, de um simples aluno do mestrado do SPN e CPAJ.

    Terezinha Pfarrius

    Eu li o livro é concordo plenamente com o artigo escrito.
    Totalmente distorcido!

    Pedro Vieira

    Bom dia, irmão.
    Não li o livro, mas conheço aqueles que odeiam o mesmo e aqueles que morrem por ele. Li sua crítica e percebi que somente no ponto 5 você cita a página onde está a afirmação teológica que você refuta. Se possível for, gostaria que o irmão editasse a postagem colocando as páginas do livro onde estão os problemas teológicos citados, para que outros (como eu) pudessem conferir “se as coisas são realmente assim” (rsrs).
    Digo isso, pois ao conversar com um defensor ou detrator do livro, gostaria de estar melhor embasado. Isto também é necessário, pois, se de fato tem erros desta magnitude o livro, aqueles que gostam do mesmo serão melhor orientados.
    Obrigado, e que o Senhor lhe abençoe.

        Pedro Vieira

        Para discutir um livro, faz sentido ler o livro todo. Para discutir uma ideia inserida no livro, às vezes basta ler a formulação dada pelo autor, ler o contexto imediato (algumas páginas ou o capítulo) e obter informações sobre o autor (dessas de orelha de livro). Mas eu enfatizo aqui o “às vezes”. Valeu pela dica.

      Pr. Eron Franciulli

      Caro Pedro,
      Antes de mais nada permita-nos agradecê-lo por suas contribuições aqui. Gostamos muito dessa interação! Com relação à sua dúvida, podemos dizer o seguinte: o texto publicado é uma pastoral e não uma resenha crítica. Logo, ficamos descompromissados de informar cada página, nas quais os erros teológicos do livro estão descritos. Nossa sugestão é que além dessa pastoral você leia também o livro, pois assim acumulará as informações que deseja para eventualmente ajudar alguém nesse sentido.

      Att.

      Equipe Pastoral da IPCB

        Pedro Vieira

        Perdoe-me pela preguiça… rsrs O q ocorre é q realmente não gosto desse estilo literário… Se eu tivesse essas referências, poderia consultar as páginas e seus contextos imediatos, sem ter q me dar ao trabalho de ler o livro todo.

    Gildásio

    Amados em Cristo. Saudações. Ótimo texto pastor. Entendo e concordo com o raciocínio do Pedro, ao tempo que entendo também seu argumento. Aqui, no entanto, gostaria de opinar sobre a urgência e atualidade do enfrentamento teológico a tantos textos estranhos às escrituras que surgem como uma “nova filosofia cristã ” ou um “novo cristianismo inclusivo”. Vivemos ameaças semelhantes às do primeiro século, quando a propagação do evangelho incluía pessoas de outras matizes culturais, mas algumas delas queriam o Cristo segundo suas anteriores convicções. João em suas cartas e Paulo aos colossenses já demonstravam preocupação com esse “pseudo evangelho” que procura adaptar Jesus a visões ou tradições estranhas à verdade revelada. Que Deus nos guarde e que continue levantando pessoas com tais preocupações elucidativas. Que venham outras pastorais como essa e que, nas próximas, dicas como a do Pedro sejam consideradas.

    Gildásio

    No texto acima não quis parecer bairristas, exclusivista, “fundamentalista” ou “intolerante” (palavras que estão na moda contra a pregação reformada). Apenas creio que não basta crer, mas tem que crer como mandam as escrituras. Costumes e hábitos que não atinjam a lei do amor, liturgias e outras produções humanas são dignas de serem respeitadas e Deus às respeita. Dessa pluralidade de “tribos línguas e nações” Deus quer fazer, tem feito e fará um povo “seu, zeloso e de boas obras”. Mas a revelação especial, a bíblica, não pode ser perdida de vista. Amém? rsrsrsrs. Abraço fraterno.

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