Peregrinando

Peregrinando

“…aos eleitos que são forasteiros…” (1Pe 1.1b)

Em 2010, em minha viagem ao Egito, senti-me um verdadeiro forasteiro em uma terra estranha. Não entendia a língua das pessoas, não conseguia ler jornais, placas de sinalização e muito menos acompanhar os noticiários na televisão. A comida daquele país era estranha ao meu paladar e os costumes daquele povo me deixavam, em alguns momentos, desconfortável. A Palavra de Deus afirma que somos forasteiros e peregrinos nesse mundo e como tal, não devemos nos moldar aos conceitos e costumes daqui. Em outras palavras, o cristão não deve sentir-se em casa no mundo terreno.

O apóstolo Pedro escreveu: “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma,” (1Pe 2.11). Precisamos, urgentemente, compreender a natureza pecaminosa de um cristão e caminhar em santidade abstendo-nos da contaminação do mundo caído no qual vivemos. Caso contrário, viveremos para esse mundo como se ele fosse eterno e nos esqueceremos da verdadeira Pátria que está por vir.

O ensino bíblico não está nos incentivando à irresponsabilidade e ao desleixo, mas ao equilíbrio, visando colocar cada coisa em seu devido lugar. Muitos cristãos se comportam como se fossem viver eternamente nesse mundo, estranhamente trabalham com enorme esforço e empenho para adquirir riquezas, ter mais, e construir palácios. Eles, porém, se enganam, pois, como retratado em 1 Jo 2.17, esse mundo é passageiro. É valido destacar que não há nada de mal em possuir coisas, o mal é quando nosso coração começa a se apegar a elas, como se fossem durar para sempre e fazemos delas o nosso supremo objetivo.

Definitivamente, precisamos reconhecer que somos cidadãos do céu. Talvez seja por essa causa que Deus, muitas vezes, abala a nossa confiança nas coisas do presente, mexe em bens materiais e na nossa suposta estabilidade para nos lembrar que somos peregrinos aqui. Peregrinos, não possuem casas permanentes, mas têm um propósito no coração: caminhar para um lugar definitivo, e no caso do cristão, a mansão celestial. O reverendo Augustus Nicodemus, estudando esse assunto, afirmou: “O sofrimento serve para nos lembrar que nós não chegamos ainda, estamos a caminho”.

O escritor aos Hebreus, ao falar sobre os patriarcas, também registrou o conceito de peregrinos, afirmando: “Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra” (Hb 11.13). Em muitos momentos, os nossos irmãos do passado tiveram dificuldades e sofrimentos próprios de uma grande jornada. Precisamos nos lembrar que assim como os nossos irmãos do passado, Deus nunca nos prometeu uma viagem sem problemas, mas uma chegada gloriosa.

A sublime verdade revelada por Deus a nós é que “a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20). Enquanto aguardamos a nossa morada final, precisamos viver uma vida responsável, irrepreensível, sem mácula, e não colocar aqui o nosso coração, tendo em mente que as questões transitórias do presente não devem ser empecilhos para o glorioso futuro que nos aguarda. O nosso Senhor Jesus afirmou: “todavia, não sois do mundo, pelo contrário dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia” (Jo 15.19b). Esse não é o nosso lugar e muito menos a nossa morada definitiva. Caminhemos rumo à cidade celestial, “com os pés no vale e o coração no céu” [1].

Pr. Fábio B. Coutinho

[1] Lopes, Hernandes Dias. 1Pedro: com os pés no vale e o coração no céu. São Paulo: Hagnos, 2012