Por que a autoconfiança gera ansiedade?

Por que a autoconfiança gera ansiedade?

“Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?” Mateus 6.27

“Na tua presença, Senhor, estão os meus desejos todos, e a minha ansiedade não te é oculta.” Salmo 38.9

A ansiedade tem sido considerada por muitos o mal do século. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) os transtornos de ansiedade já tomaram proporções epidêmicas em muitos lugares, como no Brasil, por exemplo, que possui o maior número de pessoas ansiosas em todo o mundo[1]

Embora seja esse um problema de raízes diversificadas (fisiológicas, sociais, emocionais etc.) – e comumente sobrepostas –, não se pode desconsiderar o fator espiritual da questão. Jocelyn Wallace identificou com precisão que “[…] em muitas situações, quando nos vemos ansiosos, é porque decidimos que a única pessoa em quem podemos confiar para nos manter seguros somos nós mesmos”[2]. Ou seja, é possível que em muitos casos a ansiedade seja gerada pela equivocada crença de que o governo da nossa história e a daqueles a quem amamos estão em nossas frágeis mãos. Como colocou David Powlison: “Muito do barulho em nossas almas é produzido pela nossa tentativa de controlar o incontrolável”.

De maneira amorosa, o próprio Senhor Jesus foi enfático ao mostrar que esse nosso anseio por controle não produz os resultados esperados (Mt 6.27). Pelo contrário, confiar em nós mesmos como senhores de nossa história produz apenas maior inquietação, mais barulho em nossa já barulhenta alma, uma vez que não somos capazes de acrescer nem ao menos “meio metro” ao curso de nossa vida. Isso significa que viver tentando controlar todos os eventos à nossa volta é exaustivo demais para nós, criaturas pecadoras, finitas e limitadas. Nas palavras dele, melhor é confiar naquele que cuida bondosa e totalmente até mesmo de pequenas aves e plantas (Mt 6.26-30).    

Sendo assim, um dos principais erros de um cristão que luta contra a ansiedade é crer que mais confiança em si mesmo e maior controle sobre as circunstâncias resolvem o problema. Não resolvem. Apenas o intensifica. Agir assim é como tentar matar a sede com água do mar: quanto mais bebemos, com mais sede ficamos. E por mais ilógico que isso pareça ao nosso coração com resquícios de autossuficiência, a melhor maneira de combatermos a ansiedade é abdicarmos de tentar controlar todas as coisas e confiarmos no cuidado quem, de fato, está no trono: o Pai celeste.

Portanto, a ansiedade deve ser combatida com confiança no cuidado divino; não com autoconfiança; não com a tentativa de controlar as pessoas e circunstâncias. E a melhor maneira de exercitamos essa fé é por meio de humildes súplicas ao Pai. Quando assim o fazemos, nas entrelinhas estamos reconhecendo que o governo não nos pertence e que dependemos totalmente dele (Sl 38.9; Fp 4.6-7; 1Pe 5.6-7). 

Eron Franciulli Coutinho Jr


[1] https://exame.abril.com.br/ciencia/brasil-e-o-pais-mais-ansioso-do-mundo-segundo-a-oms

[2] WALLACE, Jocelyn. Ataques de ansiedade e pânico: confiando em Deus quando você tem medo (Série Aconselhamento Livro 22). Editora Fiel. Edição do Kindle.