“Eu não aguento mais”, disse ele ao seu pastor. Cabisbaixo, com os olhos fixos na pequena poça de lágrimas perto de seus pés, continuou: “…estou cansado de cair no mesmo erro. Tenho até vergonha de orar e mais uma vez pedir perdão a Deus, porque sei que vou acabar errando novamente. Como ele pode me perdoar se nem eu já me perdoo mais?”
Talvez, as sinceras reflexões desse cristão não sejam tão diferentes daquelas de tantos outros que, diariamente, são derrotados na batalha contra a pornografia. Vergonha, culpa e apatia espiritual têm se tornado companheiras inseparáveis de muitos crentes que não conseguem abandonar esse pecado e, por isso, veem-se completamente escravizados. Então, quando se deparam com algumas passagens bíblicas que afirmam não ser mais o crente escravo do pecado (cf. Rm 6.4,14 – 8.2; 2Pe 1.3,4), a crise deles aumenta significativamente, pois inferem (corretamente) que a pornografia não deveria dominá-los, se, de fato, são novas criaturas em Jesus (cf. 2Co 5.17).
Todavia, eles não sentem e nem acreditam que são verdadeiramente livres em Cristo e, por isso, o trágico ciclo pecado-culpa-tristeza-pecado permanece inalterável em suas vidas. Pode parecer estranho – espiritualmente esquizofrênico até – mas muitos cristãos vão à pornografia buscar alegria e alívio justamente por não suportarem mais a tristeza e a culpa de serem, por tanto tempo[1], dominados por ela.
Geralmente, uma dúvida incômoda e constante acompanha esses crentes: quem está dizendo a verdade? A própria experiência pessoal de insucesso e desânimo, que grita diariamente em seus ouvidos: “é impossível para você abandonar a pornografia!”, ou a Palavra de Deus, que afirma categoricamente: “você já está sob o domínio de Cristo e não do pecado”?
Teoricamente, essa pergunta é fácil de ser respondida. AEscritura Sagrada é inspirada, inerrante e infalível (cf. 2Tm 3.16; Hb 4.12), enquanto as experiências de vida e as lições que ela produz partem de um coração enganoso e corrupto (cf. Jr 17.9). Logo, a Bíblia não erra quando afirma não estar mais o crente sob o domínio do pecado. Porém, infelizmente, essa verdade nem sempre é assimilada, apropriada e experimentada por aqueles que foram fisgados pela pornografia.
Diante disso, a pergunta que surge é: por que tantos cristãos têm perdido a batalha contra a pornografia se eles já foram libertos por Cristo do poder escravizador do pecado? Valendo-me dos escritos de Heath Lambert, em seu livro Finalmente, Livre!, penso que muitos cristãos não têm conseguido abandonar o pecado da pornografia, porque, em algum momento, deixaram de acreditar no poder da graça perdoadora e transformadora de Cristo.
Em primeiro lugar, esses cristãos, depois de tanto tempo no pecado, deixaram de acreditar que a graça de Cristo é incansavelmente perdoadora. Perguntas do tipo “Como Deus pode me perdoar se nem eu já me perdoo mais?” apenas demonstram a ignorância que o pecado produz em seus corações. Cristãos pornógrafos, esmagados pela culpa, tendem a se esquecer de que é justamente o fato de Deus não ser como eles o motivo pelo qual ele os perdoa. As misericórdias dele não têm fim! (cf.Sl 103; Lm 3.22,23). Como afirma Lambert: “Não importa o quão terrível seja a pornografia, não importa em quantas encrencas você esteja envolvido, ou quão fracos sejam os seus recursos, você nunca estará em um poço tão fundo que a graça de Cristo não possa alcançá-lo”.[2]
Em segundo lugar, esses cristãos, por não mais acreditarem na graça perdoadora, negligenciam as ferramentas da graça transformadora. Afirmações do tipo: “sei que vou acabar errando novamente” demonstram apenas a teimosa apatia que o pecado produz. Em algum momento, eles se viram completamente vendidos ao pecado e, como se não houvesse disponíveis a eles os recursos da graça transformadora, acreditaram ser escravos da pornografia. Logo, inevitável e tragicamente, passaram a viver de acordo com o que criam ser: escravos. Portanto, para quebrar o ciclo emburrecedor do pecado é necessário que eles voltem os olhos para a poderosa graça transformadora. Ela tem poder para verdadeiramente libertar o mais vil pornógrafo e conformá-lo à imagem de Cristo (cf. R 8.29).
Sendo assim, deixe-me concluir oferecendo algumas ferramentas da graça perdoadora e transformadora de Cristo que estão disponíveis a você, que luta contra o pecado da pornografia. Elas, certamente, capacitarão você para desenvolver a santificação que a graça, de antemão, já lhe concedeu.
- Ore e peça perdão a Deus. Em primeiro lugar, use a ferramenta da graça chamada oração. Coloque-se diante de Deus, nomeie os seus pecados e peça perdão a ele. Lembre-se de que é Cristo que concede a você o acesso ao trono da graça (cf. Hb 4.14-16) e não os méritos que você (não) possui. Agarre-se a Cristo, suplique por misericórdia e, pela fé, creia em sua graça perdoadora.
- Lave-se na Palavra. Em segundo lugar, use a ferramenta da graça chamada Palavra. Paulo, escrevendo aos Efésios afirma que a igreja de Cristo é purificada, quando ela é “lavada” pela Palavra de Deus (cf. Ef. 5.26). Você só se manterá limpo da imundícia da pornografia se estiver diariamente sendo lavado pela Palavra de Deus.
- Saia do quarto escuro. Em terceiro lugar, use a ferramenta da graça chamada exposição. Talvez, a pior coisa que possa acontecer a um pornógrafo é não ter o pecado exposto. O conforto do pecado secreto é como uma doença assintomática que, quando aparece, provoca grandes sofrimentos (cf. Sl 32). Então, não espere ser “pego”. Exponha-se! Procure o conselho de seu pastor, ou de um cristão maduro, e conte a ele sobre as suas dificuldades. Esse é um grande passo em direção à liberdade.
- Arranque braços, olhos e o que mais for preciso. Em quarto lugar, use a ferramenta da graça chamada radicalidade. Como ordenou Jesus, corte radicalmente todos os caminhos que o conduzem ao pecado (cf. Mt 5.27-30). Talvez, para alguns, radicalidade signifique usar o notebook na sala; para outros, ter programas que forneçam o histórico de navegação a pessoas de confiança; para outros ainda, signifique contar com a cobrança contínua do cônjuge. A graça transformadora pode tomar várias formas na luta radical contra a pornografia.
Enfim, termino com Lambert e com o apóstolo Pedro: “Não existe nenhum escravo do pecado pornográfico que Cristo não possa libertar. Não há luta pela pureza tão intensa que a graça de Jesus não possa vencer. Não existe algo tão escrupulante que não possa ser tirado por meio de Cristo. A graça de Cristo que transforma tem mais poder para restaurá-lo do que a pornografia para destruí-lo”.[3]