Nos últimos anos, os televisores se tornaram um item quase obrigatório nas casas país afora. Nada menos do que 97,2% da população já possui algum dispositivo eletrônico-televisivo, ou seja, apenas 2,8% dos brasileiros ainda não fazem uso habitual de TV.[1] Isso, sem considerar o expressivo número de restaurantes, consultórios e outros espaços comerciais que “decoram” o ambiente com um ou mais aparelhos dessa natureza.
Ademais, com o avanço tecnológico – especialmente, com a integralização da internet aos dispositivos eletrônicos – os televisores estão cada vez mais modernos e conectados, oferecendo o que nem se imaginava anos atrás. Filmes, séries, novelas, desenhos, documentários, musicais, reality shows, noticiários, gastronomia e esportes são exemplos de uma extensa programação disponível 24 horas por dia.
Na verdade, tamanha oferta de entretenimento e serviço dessa maneira, tem transformado a relação das pessoas com a TV. Não são poucos os que já não conseguem passar um dia sequer longe de seu dispositivo. Se considerarmos ainda a proeminência dos videogames, esse hábito de passar horas em frente à tela se torna ainda mais acentuado. Consequentemente, os reflexos são sentidos na saúde, na produtividade e, especialmente, nos relacionamentos daqueles que assim procedem.
Em vista disso, proponho abaixo algumas reflexões sobre nossa relação com a TV, destacando sobretudo a falsa percepção de que ela pode ser o antídoto para os nossos anseios e frustrações mais profundas. Ao final, concluo considerando que somente Jesus pode satisfazer essas expectativas que, tolamente, procuramos saciar em frente à TV.
A TV como antídoto para solidão. Uma prática comum em nosso país – tanto em ambientes residenciais quanto em ambientes comerciais – é deixar o televisor ligado sem que ninguém esteja, de fato, assistindo à programação exibida. Talvez, seja essa uma estratégia para “dar vida” ao ambiente comercial e atrair mais consumidores. Contudo, fazer isso em casa apenas para se ter “companhia” pode ser reflexo de um coração solitário. Desse modo, a TV funciona como um meio de aplacar a dor da solidão de muitas pessoas.
A TV como antídoto para o estresse. Outra prática comum é quando as pessoas vão à TV procurando aliviar o estresse. Horas e mais horas são desperdiçadas em frente ao televisor para tentar esvaziar a mente do cansaço diário. Afinal, “eu mereço isso”! O problema é que a distração audiovisual apenas silencia a inquietação mental, mas não a soluciona. Logo, quando a distração acaba, o estresse faz sua “reintegração de posse”. Nesses casos, há ainda um agravante: nossa mente acaba absorvendo quase que sem critério tudo o que foi reproduzido, uma vez que estávamos cansados demais para manter a reflexão crítica sobre o que assistíamos.
A TV como antídoto para o tédio. Uma prática que tem sido glamourizada, sobretudo pelos canais de streaming como a Netflix, é a imersão contínua e irrestrita na plataforma – se você preferir, o verbo criado para descrever a ação é “maratonar”. O problema é que essa prática pode mascarar o tédio da pessoa que se propõe a passar, por exemplo, o final de semana inteiro em frente à TV. É verdade que existem filmes, séries e documentários extremamente contagiantes, mas quando isso se torna um hábito, talvez um coração entediado com a vida esteja se escondendo nas horas maratonadas.
Jesus: amigo, descanso e sentido para a existência
Somos seres caídos, experimentando os infortúnios de um coração sedento por natureza. Queremos relacionamentos íntimos e saudáveis, mas preferimos nos isolar e não nos expor. Desejamos descanso para a nossa alma inquieta, mas procuramos alívio naquilo que nos cansa ainda mais. Buscamos sentido para a existência nas coisas criadas, mas logo nos decepcionamos com elas e o tédio toma conta de nós.
A verdade é que a TV nunca foi, e nem será, o real problema. O real problema encontra-se em nosso coração desajustado. Ou seja, enquanto procurarmos nas telas – seja do celular, do tablet, do notebook ou da TV – preencher os anseios de nosso coração, deixaremos de experimentar a verdadeira satisfação que somente Jesus pode nos dar.
Ele é amigo verdadeiro, sempre presente; é descanso e alívio; é sentido, valor e significado para nossa vida. De fato, nosso coração foi criado para ter comunhão com Jesus e somente essa comunhão poderá preencher o vazio e curar a dor que ele sente.
Eron Franciulli Coutinho Jr
[1] http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2018-02/uso-de-celular-e-acesso-internet-sao-tendencias-crescentes-no-brasil