Três perguntas sobre o Perdão
Em seu livro Cristianismo Puro e Simples, C. S. Lewis verbaliza o que parece ser o pensamento geral sobre o perdão. Seu argumento é que “todos dizem que o perdão é um ideal belíssimo até terem algo a perdoar”.1 Certamente você já experimentou essa dificuldade e talvez tenha concluído ser impossível tomar essa decisão em alguns casos e situações específicas. Como perdoar quem nos fez tanto mal? Como “passar por cima” de algumas ofensas cuja mera lembrança faz com que nossa carne trema, nosso coração dispare e nossa mente se inquiete? Em situações assim nos sentimos verdadeiramente paralisados! Por essa razão, algumas pessoas argumentam que “pecar é humano; perdoar é divino”.
Todavia, na oração do “Pai nosso” o Senhor ensinou aos seus discípulos: “se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” (Mt 6.14-15). Logo, Jesus não deixa outra alternativa: assim como ele deu exemplo perdoando seus ofensores na cruz, seus discípulos também devem perdoar quem os ofende.
Como, porém, praticar algo tão difícil? Talvez a consideração de três princípios básicos ajude nesse processo. Em primeiro lugar, podemos aprender a perdoar começando com algo mais fácil. De fato, quanto estudamos matemática não começamos com cálculos avançados, mas com a simples aritmética!2 Dessa forma, ao perdoamos a ofensa do cônjuge ou do filho na semana que passou ou do colega de trabalho no dia anterior já revelará progresso e estabelecerá um padrão a ser seguido. Com o passar do tempo, essa atitude poderá ser estendida a outros casos.
Em segundo lugar, devemos lembrar que Jesus ensinou a amarmos o próximo como a nós mesmos. Se formos honestos, teremos que admitir que não somos “padrão de retidão”! Todos nós pecamos e desejamos que o Senhor nos conceda perdão para nossas falhas. Em nossos momentos de lucidez podemos ser menos exigentes com nossos ofensores, pois nossos pecados contra Deus são mais graves e cruéis do que algumas das ofensas que recebemos – afinal somos culpados da morte do Filho dele! Por último, devemos considerar o que, de fato, significa perdoar. Algumas pessoas entendem o perdão de maneira errada, definindo o mesmo como “esquecimento”. No entanto, Deus não se esquece de nossas faltas, mas decide não usá- las contra aqueles a quem ele perdoou. De fato, na cruz, Deus cancelou o escrito de dívida que era contra nós (Cl 2.14). Assim, ele decidiu não mais levar a juízo aqueles a quem ele perdoou! Dessa maneira, perdão não é um sentimento, mas uma decisão!
Depois dessa breve ponderação, há algumas perguntas que você pode fazer a si mesmo com respeito ao perdão. Cada uma delas possui, no mínimo, uma ramificação.
1. Há alguém em sua vida que você necessita perdoar? O que o impede de perdoar essa pessoa?
2. Há alguém em sua vida a quem você necessita pedir perdão? O que o impede de procurar aquela pessoa e confessar suas faltas a ela?
3. Como sua dificuldade em perdoar alguém ou sua relutância em pedir perdão a quem você ofendeu tem atrapalhado o seu relacionamento com outras pessoas? Como essa atitude tem afetado o seu relacionamento com Deus?
Finalmente, que tal ler e meditar sobre alguns textos das Escrituras que abordam esse assunto? Eis aqui uma pequena lista de sugestões:
• Colossenses 3.12-13 – “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós.”
• Mateus 5.23-24 – “Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta.”
• Mateus 18. 21-22 – “Então, Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.”
• Lucas 17.3-5 – “Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe. Então, disseram os apóstolos ao Senhor: Aumenta-nos a fé.”
• Tiago 5.16 – “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo.”
Não há nenhuma garantia de que após considerar tudo o que foi dito e refletir nos textos bíblicos acima você conseguirá perdoar com facilidade. Como já foi dito, perdoar não é fácil! Mas perdoar é necessário! Alguém já comparou a prática do perdão à abertura de uma janela em uma casa toda abafada e escura. Quando a janela é aberta, a brisa refrescante entre a luz ilumina áreas que antes eram dominadas por trevas.
Dessa maneira, talvez o mais sensato seja orar como os apóstolos dizendo: “Senhor, aumentanos a fé” (Lc 17.5). Somente com uma fé aumentada e amadurecida conseguiremos perdoar como Jesus o fez!
1 LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples. São Paulo: Martins Fontes,
2 Ibid., p. 153.