Pr. Fábio B. Coutinho
“…A vós outros vos é dado conhecer o mistério do reino de Deus; mas, aos de fora, tudo se ensina por meio de parábolas” (Mc 4.11)
Ao lermos o Capítulo 4 do Evangelho de Marcos algo nos chama a atenção: “numerosa multidão” (Mc 1.1) estava seguindo a Jesus. Esta é a primeira vez que o termo “numerosa” é usado para esses encontros. Assim como cada um de nós aprecia histórias, o povo daquela época também estava ávido para ouvir o que Jesus estava falando. Aliás, ele era reconhecido como um verdadeiro mestre, alguém que ensinava com autoridade (Mt 7.28-29). Contudo, Jesus, “sem parábolas não lhes falava; tudo, porém explicava em particular aos seus próprios discípulos” (Mc 4.34).
Qual era o assunto que fazia com que multidões se deslocassem de suas casas e cidades para ouvir a Jesus? A mensagem central de Jesus em Marcos 4.1-34 foi o anúncio do Reino de Deus. Ele usou três parábolas para falar acerca da semente: A parábola do semeador; a parábola da mostarda e a parábola do poder intrínseco da semente. Jesus destacou o imperceptível começo do Reino de Deus (Mc 4.26); em seguida, o desenvolvimento do Reino (Mc 4.27-28) e ainda a consumação desse Reino (Mc 4.29). Jesus estava comprometido com uma agenda espiritual e eterna, essa era a mensagem do Senhor.
Não era exatamente isso que as multidões queriam ouvir. Elas esperavam que Jesus libertasse a nação do poder dos romanos. Ao invés disso, Jesus, chamou doze homens comuns e fundou uma “nação espiritual” cujos cidadãos têm seus nomes escritos no céu (Lc 10.20 e Fp 3.20). O povo desejava que Jesus se comportasse como um judeu devoto e honrasse a sua família, ele, no entanto instituiu uma “nova família” formada por todos aqueles que creem em seu nome e fazem a sua vontade. Eles esperavam que Jesus restaurasse o reino e trouxesse de volta a glória à Israel, porém, a sua resposta foi anunciar um novo Reino, um Reino espiritual [W.W. Wiersbe].
É interessante notar que Jesus não ensinou a respeito do Reino utilizando uma preleção teológica, mas ilustrando situações cotidianas que cativavam a atenção das pessoas e os despertavam para pensar a respeito do assunto e os levavam a pensar no tema proposto. Parábola no grego significa: “lado a lado”, “comparação” ou fazer um “paralelo”. Uma parábola é uma história ou ilustração colocada em paralelo com um ensinamento central para ajudar ao ouvinte a entender o seu significado. Temos parábolas no Antigo Testamento (Jz 9.7-15; Is 5.1-7) e por todo o Novo Testamento parábolas são encontradas.
Jesus usava as parábolas para proclamar o Reino de Deus. Ele anunciava algo inédito que estava sendo revelado ao povo daquela época e a nós hoje. Ler as parábolas de Jesus e buscar uma boa interpretação exegética (ou seja, uma cuidadosa análise histórica, literária e teológica do texto lido), é um excelente exercício espiritual para o aprendizado do Reino de Deus e para edificação de nossa alma. Por fim, uma parábola começa de forma inocente, como um retrato que chama a nossa atenção e suscita o nosso interesse. Mas, ao estudarmos este retrato, ele se transforma em um espelho e se continuarmos olhando pela fé, o espelho transforma-se em uma janela pela qual conhecemos Deus e sua verdade.