O Coração do Problema é o Problema do Coração

postado em: Pastorais

Pr. Valdeci Santos

O escritor de Provérbios ensina que “como na água o rosto corresponde ao rosto, assim, o coração do homem ao homem” (Provérbios 27.19). Ou seja, o coração é o reflexo da identidade humana. Assim, se queremos compreender nossas inquietações e ações, precisamos entender o que a Bíblia ensina sobre nosso coração.

Em primeiro lugar, a Bíblia descreve o coração como o homem interior (Mateus 15.8 e 1Samuel 16.7). As motivações, emoções e argumentações humanas procedem do coração. Ele é a sede de todos os desejos (Tg 4.1-10). Assim, o que governa o comportamento e as atitudes humanas é o coração.

Em segundo lugar, a Bíblia se refere ao coração como um órgão ativo. O salmista afirma que, no caso do homem perverso, seu coração é “máquina iniquidades e vive forjando contendas” (Salmo 140.2). No caso do crente, porém, Davi testifica: “Ao meu coração me ocorre: Buscai a minha presença; buscarei, pois, SENHOR, a tua presença” (Salmo 27.8). O escritor de Provérbios ainda ensina que “o coração do justo medita o que há de responder” (Provérbios 15.28).

A ênfase nesses textos é que, diferente do que muitos cogitam, o coração humano não é um órgão passivo, mas ele age e responde a cada situação. A resposta do coração humano pode ser santa ou pecaminosa, dependendo daquilo que o controla no momento (obras da carne x fruto do Espírito). Por essa razão o sábio diz que temos, antes de qualquer coisa, de guardar nosso coração (Provérbios 4.23).

Em terceiro lugar, Jesus ensina que o coração é a casa do tesouro, ou seja, ele abriga tudo o que é valioso para nós (Lucas 6.45). Muitas vezes, o que é valioso para nós não é aprovado pelo Senhor. Por isso o sábio de Provérbios declara que “todo caminho do homem é reto aos seus próprios olhos, mas o SENHOR sonda os corações” (Provérbios 21.2). Os sonhos e desejos de uma pessoa, seus valores mais íntimos governarão suas decisões e atitudes. Esses valores se tornam alvos a serem perseguidos e por eles as pessoas se orientam.

Finalmente, a Bíblia também ensina que o coração humano é o centro de adoração. O profeta Ezequiel descreve os anciãos de Israel em um período de apostasia e afirma que eles “levantaram os seus ídolos dentro do seu coração” (cf. Ezequiel 14.1-7). O homem adora em seu coração aquilo que lhe é mais precioso. Assim, o ser humano pode tanto cultuar Deus em seu íntimo como também praticar idolatria submersa.

Sempre que alguém ama algo ou alguém mais do que a Deus ele transforma o objeto do seu amor em um ídolo. Conhecedor dessa verdade, Calvino disse que a “imaginação do homem é, por assim dizer, uma perpétua fábrica de ídolos”.[1] Quando alguém se recusa a se submeter a Deus ele, geralmente, atribui significado divino a qualquer objeto, inclusive a si mesmo!

Todas essas referências bíblicas sobre o coração devem nos levar a considerar seriamente nossas inclinações e motivações mais íntimas. Nossos problemas não são apenas externos, mas internos. A incredulidade está alicerçada no coração da pessoa e não somente em seu intelecto (cf. Salmo 14.1 e 53.1). A devoção humana é fruto da resposta amorosa do seu coração ao seu Senhor (cf. Salmo 57.7 e 62.8).

Por isso, o coração humano sempre será um dos principais alvos a ser seduzido pelo inimigo, para que o ser humano se desvie de Deus (cf. Salmo 62.10). Jesus alertou que “de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios” (cf. Marcos 7.21). Investigar e distinguir o que se passa em nosso coração é fundamental para nosso crescimento espiritual.


[1] CALVINO, João. As institutas. Edição Clássica, vol. 1. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 107 (I.xi.8).

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