Pr. Valdeci Santos
A Reforma é frequentemente descrita como um movimento que girava em torno de duas questões essenciais. A primeira, chamada causa “material”, era o debate sobre sola fide (justificação somente pela fé). A segunda, a causa “formal”, era a questão da sola Scriptura, a ênfase de que a Bíblia, e somente a Bíblia, tem autoridade final para determinar matéria de fé e prática do crente. Nesse sentido, a tradição da igreja era vista com respeito pelos Reformadores, mas não era tida como uma fonte normativa de revelação. Por isso, o “protesto” dos que buscavam a reforma da igreja foi muito além da questão da justificação pela fé, desafiando muitos outros dogmas que surgiram no romanismo, especialmente durante a Idade Média.
O movimento da Reforma Protestante se originou na Alemanha, mas não parou por lá. Impulsionado pela tradução da Bíblia em outras nações, a Reforma se espalhou para a França, Escócia, Inglaterra, Suíça, Hungria e Holanda. Na Suíça, Ulrico Zuínglio, um ex-padre, liderou o movimento, atuando até como capelão do exército nas lutas armadas pela fé protestante.
O “teólogo da Reforma”, como se tornou conhecido, foi o francês João Calvino. Em 1534, Calvino fez um discurso na França, convocando a igreja a retornar ao puro Evangelho. Seu discurso foi queimado pelas autoridades romanas e Calvino fugiu de Paris para Genebra. Disfarçado de viticultor, ele escapou da cidade em uma cesta que era usada para o comércio de alimentos. Durante o ano seguinte, cerca de duas dúzias de protestantes foram queimados vivos na França.
Na tentativa de convencer as autoridades francesas de que o protestantismo não era herético e nem sectário, Calvino escreveu suas famosas Institutas da Religião Cristã, que foram dedicadas ao rei da França. O pensamento de Calvino, exposto nas Institutas, bem como algumas contribuições teológicas de Zuínglio, se desenvolveu na teologia importante para a expansão internacional da Reforma.
A teologia calvinista enfatiza a soberania de Deus em todas as esferas da vida, inclusive na salvação. É possível afirmar que Calvino foi quem mais claramente expôs a verdade de Jonas 2.9: “Ao SENHOR pertence a salvação!”. A principal paixão de Calvino era a reforma da adoração, comunitária e individual, a um nível que não permitisse a possibilidade da propensão idólatra do ser humano. Assim, Genebra atraiu líderes de toda a Europa que foram observar o modelo de igreja naquela cidade, bem como para serem instruídos pelo próprio Calvino. Um dos alunos do reformador foi um sacerdote escocês que havia servido dezenove meses como escravo de uma galé, chamado John Knox.
Após estudar em Genebra, Knox retornou para Escócia, onde empreendeu esforços para a reforma da igreja naquele país. Como fruto desses esforços, o Parlamento escocês rejeitou a autoridade papal em 1560, no ano seguinte, foi organizada a igreja reformada escocesa, a qual se denominou Igreja Presbiteriana.
Essas pequenas observações históricas nos lembram que nossa fé possui fundamentos bíblicos e históricos. Ademais, homens e mulheres de Deus deram suas vidas para garantir o direito que temos de professar nossa fé reformada atualmente.