Onde está Deus enquanto sofro?

postado em: Pastorais

Pr. Valdeci Santos

            Nada é mais angustiante na vida cristã do que experimentar a dor da aflição e, ao mesmo tempo, a angústia de não sentir o conforto da presença divina. Os momentos em que enfrentamos a perda de alguém que amamos, a angústia de ouvir um diagnóstico médico sobre uma doença incurável, a perda de um bebê, os casos de opressão e abuso pessoal ou alguma outra experiência dolorida, são exemplos que exigem mais do que forças humanas para suportar. Para agravar tudo isso, há ocasiões em que a resposta mais comum à nossas orações parece ser o silêncio do Pai celestial.

Ficamos atônitos e confusos enquanto no íntimo uma voz questiona: “Onde está Deus nesses momentos?”; “como ele pode permanecer impassível e distante nessas horas?”; “estaria ele apenas assistindo a esses acontecimentos sem fazer nada?”; “se até os pais terrenos se dispõem a ajudar os filhos na hora da aflição, por que Deus demora tanto?”

            Contrário ao que possa parecer, esse questionamento não é, nem blasfemo e nem antagônico à fé. O salmista Hemã registrou seu questionamento ao orar: “Por que rejeitas, Senhor, a minha alma e ocultas de mim o teu rosto? Ando aflito e prestes a expirar desde moço; sob o peso dos teus terrores, estou desorientado” (Sl 88.14-15). Semelhantemente, o profeta Habacuque bradou: “Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás?” (Hc 1.2). O próprio Senhor Jesus, no momento angustiante na cruz do Calvário gritou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46). Esses exemplos bíblicos provam que o questionamento sincero e reverente não é apenas importante, mas até uma expressão da dependência de Deus.

Nenhuma pessoa na terra poderá explicar de forma definitiva a razão pela qual, algumas vezes Deus permanece silencioso e parece distante de nós nos momentos de angústias. Todavia, sugiro que você faça no mínimo quatro coisas nesses momentos.

1. Pergunte a Deus

    Há vários exemplos bíblicos de pessoas que apresentaram suas dúvidas e perplexidades a Deus em oração e não foram repreendidas por fazê-lo. Devemos sempre lembrar que uma das diferenças entre o crente e o descrente é que o primeiro fala com Deus, enquanto o segundo fala de Deus e até contra Deus. Logo, a primeira coisa a fazer nos momentos de angústia e aflição é perguntar ao próprio Deus em oração e súplica.

    2. Pergunte a si mesmo se sua interpretação está correta

    Todos nós sabemos que a dor entorpece nossos sentidos e nos impede ter uma perspectiva mais abrangente do que nosso próprio problema. Quando o povo de Israel estava escravizado no Egito nem perceberam que Deus tornava aquela família uma numerosa nação e cumpria, daquela forma, sua promessa a Abraão. O silêncio de Deus não significa que ele não se importa e a aparente distância do Senhor não é sinônimo de impotência! Questione a Deus, mas questione também sua própria interpretação dos fatos.

    3. Prepare-se para ser questionado pelo próprio Deus

    No momento em que Jó sofria ele desejou ficar face-a-face com Deus a fim de fazer algumas perguntas ao Senhor. Ao final da história, Deus atendeu a Jó e se revelou a ele. O estranho foi que Deus não deu nenhuma resposta a Jó, mas apresentou uma série de perguntas retóricas. Do meio de um redemoinho o Senhor disse: “Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras sem conhecimento? Cinge, pois os lombos como homem, pois eu te perguntarei, e tu me farás saber” (Jó 38.2-3). Depois de tantas perguntas Jó chegou a seguinte conclusão: “Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia” (Jó 42.3). Aquele exemplo indica que nós não temos a última palavra nos mistérios dessa vida.

    Finalmente, devemos nos lembrar da experiência dos amigos que Daniel que por fidelidade foram lançados na fornalha (Dn 3). O texto afirma que enquanto os espectadores aguardavam ver os servos de Deus consumidos pelo fogo, eles ficaram surpresos ao notar um quarto homem na fornalha, que era semelhante a um filho dos deuses (v 25). Aquele episódio é um convite a considerar que em meio ao seu sofrimento, o Senhor está mais próximo do que pensamos.

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