Pr. Valdeci Santos
Geralmente pensamos na morte de Jesus como consistindo apenas naqueles momentos na cruz. Mas alguns médicos têm estudado os efeitos físicos dos sofrimentos de Jesus em seus últimos dias antecedendo a crucificação. Parte desses estudos podem ser encontrados na obra What Christ suffered: A doctor’s journey through the Passion [O que Cristo sofreu: A jornada de um médico pela Paixão], publicado em 2020. Ressalto apenas alguns detalhes dessa obra abaixo.
O autor inicia afirmando que Jesus deve ter tido uma excelente condição física antes da crucificação. Ele era carpinteiro por profissão, o que exigia inúmeros exercícios ao seu corpo. Também, o fato de ele ter tido um ministério itinerante o obrigava a contínuas caminhadas e sua alimentação parecia ser bem regrada. Enfim, se a tortura que ele sofreu na crucificação pôde debilitá-lo da maneira como ela o fez, certamente aquela foi uma experiência terrível.
Os evangelhos afirmam que, antes da crucificação, Jesus suou “gotas de sangue” (cf. Mateus 26.36-46). Essa é uma condição médica rara chamada hematidrose, que é quando os vasos capilares se rompem e o sangue se mistura com o suor. No geral, essa condição é resultante de alta ansiedade e angústia mental da pessoa. Em sua oração no Getsêmani, Jesus confessou que sua alma estava profundamente angustiada até a morte (Mateus 26.38). Assim, sua pele deveria estar muito sensível por conta desse fenômeno, quando foi preso. Ademais, após sua prisão, ele foi obrigado a andar do palácio de Pilatos à Herodes algumas vezes, sofrendo privação de sono, sendo ridicularizado e açoitado algumas vezes (Mateus 26.63-65). Sua condição física ficou cada vez mais debilitada.
Após o julgamento de Jesus, Pilatos ordenou que ele fosse açoitado, o que era uma exigência romana antes da crucificação. O chicote consistia em várias tiras de couro com bolas de metal no meio e pedaços de ossos de animais nas pontas. O metal contundia os músculos e os pedaços de ossos de animais nas pontas cortavam a pele. O condenado era açoitado dos lombos às coxas, deixando-o totalmente enfraquecido e com muita dor. É necessário considerar ainda os espancamentos na cabeça e a coroa de espinho que foi colocada sobre ela (Mateus 27.28-29). Os espinhos devem ter causado grande sangramento e machucado os nervos da face, intensificando a dor de Jesus. Certamente “nenhuma beleza havia” nele naquele momento de angústia.
Para piorar a situação, Jesus enfrentou a crucificação, a qual era uma cruel forma de morte inventada, que era reservada apenas para não romanos, escravos fugitivos e os piores criminosos. A pessoa na cruz morria lentamente, experimentando toda forma de dor possível. Em sua cruz, Jesus foi pregado pelas mãos ou pulso (a palavra grega pode ser usada para ambos). Isso deve ter destruído vários nervos, pois os pregos enormes (18 a 23 cm) estraçalharam carne, nervos e até ossos, intensificando o sofrimento do Redentor. Ao ser levantado na cruz, seus ombros e cotovelos devem ter se deslocado (Salmo 22.14) e, naquela posição, os braços de Jesus foram esticados ao máximo.
Por último, seus pés foram pregados na cruz para que ele ficasse em uma posição ereta. O peso do seu corpo fazia com que ele pudesse se apoiar somente nos pregos que lhe causavam tanta dor. Ademais, naquele instante na cruz, o diafragma de Jesus, responsável pela inalação e exalação, foi afetado pela posição do corpo na cruz e a dor. A dor era intensa quando ele tentava respirar, quando ele procurava falar, e ele falou sete vezes na cruz, inclusive orando: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Salmo 22). Ele foi vagarosamente sufocado, o que deve ter gerado uma forma de líquido ao redor do seu coração e, quando o atravessaram com uma espada, de seu corpo saiu sangue e água. Assim, o colapso dos pulmões, a fragilidade do coração, a desidratação do corpo e a impossibilidade de obter oxigênio suficiente, devem ter feito com que os tecidos do seu coração gerassem um ataque cárdiaco fatal. Quando os soldados vieram para quebrar seus ossos, Jesus já estava morto (João 19.32).
Pensar e analisar toda essa angústia deveria gerar em nós profunda comoção, pois ele foi “traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades” (Isaías 53.5). Ademais, devemos entender que “o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Isaías 53.5).